terça-feira, 26 de abril de 2016

A 1º Missa no Brasil! E, uma errata...

516 anos: Uma falha sobre a história da 1ª Missa no Brasil!



     Quase todos nós ao ouvirmos falar da primeira Missa celebrada em território brasileiro imediatamente trazemos à nossa mente a imagem imortalizada pela tela de Victor Meirelles de 1860 e atualmente exposta no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro (imagem acima). A pintura, de estilo romântico, representa os indígenas e portugueses assistindo a uma Missa celebrada pelo Frei Henrique de Coimbra, acolitado por um outro frade, diante de uma grande cruz de madeira armada junto do altar da celebração. Por ocasião dos 512 anos da celebração da primeira missa no Brasil, comemorado no, dia 26 de abril de 2012, essa imagem está sendo compartilhada nas redes sociais para relembrar o evento. Contudo, a tela de Meirelles retrata na verdade, a segunda Missa no Brasil, celebrada dia 1º de maio. Como assim?!

     No dia 26 de abril de 1500, os portugueses celebraram a primeira missa no Brasil, mas na ilha da Coroa Vermelha, uma ilhota que já não existe mais. Era Domingo da Oitava de Páscoa, e a Missa foi celebrada de forma cantada, sobre um altar montada debaixo de um dossel, assistida por cerca de 1000 homens da esquadra de Pedro Álvarez Cabral. Na praia do continente, cerca de 200 indígenas acompanhavam de longe a cerimônia. 


     "Ao domingo de Pascoa pela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção. 
     Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho.
     Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação, da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito, e fez muita devoção.
     Enquanto assistimos à missa e ao sermão, estaria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos, como a de ontem, com seus arcos e setas, e andava folgando. E olhando-nos, sentaram. E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço. E alguns deles se metiam em almadias - duas ou três que lá tinham - as quais não são feitas como as que eu vi; apenas são três traves, atadas juntas. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam, não se afastando quase nada da terra, só até onde podiam tomar
pé.
     Acabada a pregação encaminhou-se o Capitão, com todos nós, para os batéis, com nossa bandeira alta."
(Carta de Pero Vaz de Caminha a El-Rey Dom Manuel I de Portugal, Porto Seguro, 1º de maio de 1500. Os grifos são meus)
      O motivo desta celebração ter sido mais afastada foi provavelmente de que o capitão não se sentia seguro de mandar celebrar a liturgia no continente por ainda não ter contatos suficientes com os nativos da terra.

     Foi só na sexta-feira, 1º de maio, que o Frei Henrique de Coimbra celebrou Missa solene diante da cruz de madeira plantada na terra da praia de Porto Seguro, a qual assistiu toda a esquadra e uma grande quantidade de indígenas que se juntaram para observarem a cerimônia.


     "E hoje que é sexta-feira, primeiro dia de maio, pela manhã, saímos em terra com nossa bandeira; e fomos desembarcar acima do rio, contra o sul onde nos pareceu que seria melhor arvorar a cruz, para melhor ser vista. E ali marcou o Capitão o sítio onde haviam de fazer a cova para a fincar. E enquanto a iam abrindo, ele com todos nós outros fomos pela cruz, rio abaixo onde ela estava. E com os religiosos e sacerdotes que cantavam, à frente, fomos trazendo-a dali, a modo de procissão. Eram já aí quantidade deles, uns setenta ou oitenta; e quando nos assim viram chegar, alguns se foram meter debaixo dela, ajudar-nos. Passamos o rio, ao longo da praia; e fomos colocá-la onde havia de ficar, que será obra de dois tiros de besta do rio. Andando-se ali nisto, viriam bem cento cinqüenta, ou mais. Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelho assim como nós. E quando se veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar, como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção.
     Estiveram assim conosco até acabada a comunhão; e depois da comunhão, comungaram esses religiosos e sacerdotes; e o Capitão com alguns de nós outros. E alguns deles, por o Sol ser grande, levantaram-se enquanto estávamos comungando, e outros estiveram e ficaram. Um deles, homem de cinqüenta ou cinqüenta e cinco anos, se conservou ali com aqueles que ficaram. Esse, enquanto assim estávamos, juntava aqueles que ali tinham ficado, e ainda chamava outros. E andando assim entre eles, falando-lhes, acenou com o dedo para o altar, e depois mostrou com o dedo para o céu, como se lhes dissesse alguma coisa de bem; e nós assim o tomamos!
     Acabada a missa, tirou o padre a vestimenta de cima, e ficou na alva; e assim se subiu, junto ao altar, em uma cadeira; e ali nos pregou o Evangelho e dos Apóstolos cujo é o dia, tratando no fim da pregação desse vosso prosseguimento tão santo e virtuoso, que nos causou mais devoção.
     Esses que estiveram sempre à pregação estavam assim como nós olhando para ele. E aquele que digo, chamava alguns, que viessem ali. Alguns vinham e outros iam-se; e acabada a pregação, trazia Nicolau Coelho muitas cruzes de estanho com crucifixos, que lhe ficaram ainda da outra vinda. E houveram por bem que lançassem a cada um sua ao pescoço. Por essa causa se assentou o padre frei Henrique ao pé da cruz; e ali lançava a sua a todos - um a um - ao pescoço, atada em um fio, fazendo-lha primeiro beijar e levantar as mãos. Vinham a isso muitos; e lançavam-nas todas, que seriam obra de quarenta ou cinqüenta. E isto acabado - era já bem uma hora depois do meio dia - viemos às naus a comer, onde o Capitão trouxe consigo aquele mesmo que fez aos outros aquele gesto para o altar e para o céu, (e um seu irmão com ele). A aquele fez muita honra e deu-lhe uma camisa mourisca; e ao outro uma camisa destoutras.
     E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar; porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram.
      Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher, moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse; e puseram-lho em volta dela. Todavia, ao sentar-se, não se lembrava de o estender muito para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior - com respeito ao pudor. Ora veja Vossa Alteza quem em tal inocência vive se se convertera, ou não, se lhe ensinarem o que pertence à sua salvação.
      Acabado isto, fomos perante eles beijar a cruz. E despedimo-nos e fomos comer."
(Continuação da Carta de Pero Vaz de Caminha)


   Fica assim, desfeito o engano. A primeira missa no Brasil foi celebrada em um Domingo, dia 26 de abril, na ilhota da Coroa Vermelha. O que Victor Meirelles representou em seu quadro de 1860 é a primeira Missa celebrada em terras continentais do Brasil, na sexta-feira, 1º de maio de 1500. Nada disso, contudo, anula a memória deste dia, em que comemoramos a primeira Missa celebrada em terras brasileiras, onde por singular graça e sagrado privilégio, nossa Pátria nasceu sendo oferecida a Deus junto com o Santo Sacrifício de Seu Filho e Senhor Nosso, Jesus Cristo.
     Brasil: Terra de Santa Cruz!

|Referência:
KUHNEN, Alceu. As Origens da Igreja no Brasil: 1500 a 1552.Bauru, EDUSC, 2005.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

O Santo Terço

Brasão Santuário N. Sra. do Carmo.jpg 
O Santo Terço
 
Na Cruz:
https://movimentojovensmarianos.files.wordpress.com/2010/08/como_reza_terco.jpg- SINAL DA CRUZ (é uma profissão de fé no mistério da Santíssima Trindade).
- CREIO (para atestar nossa fé em todas as verdades ensinadas por Cristo, reza-se esta oração).
Na primeira conta grande:
(Terminado o Credo, presta-se homenagem à Santíssima Trindade com um Pai-Nosso, Três Ave-Marias e um Glória ao Pai).
- PAI-NOSSO
Nas três contas pequenas:
- 3 AVE-MARIAS (as Ave-Marias são em honra a Deus Pai que nos criou; a Deus Filho que nos Remiu; e, ao Espírito Santo que nos Santifica).
A cada início de um Mistério: 
- 1 GLÓRIA AO PAI
  Glória ao Pai, ao Filho e o Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
- 1 PAI-NOSSO
- 10 AVE-MARIAS
- JACULATÓRIA
  Ó, Meu Jesus! Perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu e socorrei principalmente as que mais precisarem.
Mistérios:
(Os mistérios de cada dia nos ajudam a meditarmos e refletirmos sobre um determinado acontecimento na vida de Jesus. Assim, conseguimos nos aproximar mais do seu amor por nós e podemos tê-lo, cada vez mais, como exemplo para nossa vida, afinal esse é nosso objetivo: Cristo é nosso exemplo!)

Captura de tela de 2016-04-04 15:31:00.png
© Catequisar
No final do Terço:
- AGRADECIMENTO
  “Infinitas Graças Vos damos, soberana Rainha, pelos benefícios que todos os dias recebemos de Vossas Mãos Liberais.Dignai-Vos, agora e sempre, tomar-nos debaixo de Vosso poderoso amparo e, para mais Vos obrigar, Vos saudamos com uma Salve Rainha”
- SALVE RAINHA
  Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! A vós bradamos, os degredados filhos de Eva; a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei; e depois deste desterro nos mostrai Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria. Rogai por nós, santa Mãe de Deus: para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.

___________________________________________________
 | © Direito de imagem
1ª -  desconhecido. 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

A Liturgia das Horas - Santificação diária do cristão





A essência da Liturgia das Horas é a santificação das horas do dia do cristão, através das várias horas do Ofício Divino.

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Antiga iluminura representando as diferentes Horas Litúrgicas a serem recitadas ao longo do dia
Após a reforma promovida pelo Concílio Vaticano II existem cinco ou sete horas canônicas. São elas: Ofício das Leituras, para ser recitado de madrugada, contudo, reconhecendo as necessidades de adaptação do homem moderno, a Igreja diz que pode ser recitado ao longo do dia, desde que se mantenha o caráter de vigília.

Laudes ou Oração da Manhã, que é uma oração de louvor dado a Deus pela vida recebida. Atualmente composta de um Salmo, um hino do Antigo Testamento e um Salmo de louvor, de onde provém o nome. Existem alguns outros elementos nessa oração, mas o coração é este mencionado. É nesta hora canônica que se recita o Benedictus ou o Cântico de Zacarias.

Hora média, que pode se desdobrar em mais três: tércia, próxima das 09h00, sexta, próxima do meio dia e noa, próxima das 15h00. Elas podem ser recitadas como sendo uma só, para não multiplicar excessivamente os horários canônicos.
Vésperas ou Oração da Tarde, composta por dois Salmos e um hino do Novo Testamento. Recita-se nessa hora o Magnificat, que é o Cântico de Nossa Senhora.

Por fim, as Completas ou Oração da Noite, composta por um Salmo e o hino de Simeão.

Esta é a essência das cinco horas canônicas da Liturgia das Horas que pode e deve ser recitada por todos os fiéis. Contudo, existem algumas pessoas que são obrigadas a rezá-las. É o caso dos sacerdotes e dos religiosos, mas nada impede que todos a recitem.

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Monges recitando o Ofício Divino em comunidade
O Concílio Vaticano II incentivou a que, cada vez mais, se recite a Liturgia das Horas com a comunidade dos fiéis, para que esse tesouro da Igreja não fique reservado somente aos padres, mas que seja distribuído também aos fiéis, para que possam santificar o dia por meio da oração.

Para a oração, nada melhor do que utilizar a própria Palavra de Deus para falar com Ele. Por isso, a récita da Liturgia das Horas é uma escola de oração. Jesus Cristo recitou também os Salmos. Os Apóstolos igualmente. Da mesma forma, a Igreja continua recitando esta belíssima liturgia ao longo dos séculos.

O Papa Paulo VI ao promulgar a reforma da Liturgia das Horas, através da Constituição Apostólica Laudis Canticum, iniciou-a com uma frase que oferece a nota teológica da Liturgia das Horas. Ele disse: 
“O CÂNTICO DE LOUVOR que ressoa eternamente nas moradas celestes, e que Jesus Cristo, Sumo Sacerdote, introduziu nesta terra de exílio, foi sempre repetido pela Igreja, durante tantos séculos, constante e fielmente, na maravilhosa variedade de suas formas.”
Assim, quando se recita as orações da Liturgia das Horas louva-se a Deus, na terra, fazendo um louvor que no céu é incessante. Na santificação do dia, das horas, no tempo, a realidade da eternidade se faz presente. Também nós queremos, por meio do louvor, transformar a nossa vida em história de salvação.

O padre Paulo Ricardo, grande professor da nossa Igreja, possui um site com uma enorme quantidade de vídeos sobre explicações da nossa fé católica, sobre nossa Santa Igreja, a vida dos santos, dúvidas de todos os cristãos, questões polêmicas e como entendê-las à luz da fé, cursos, comentários, homilias diárias etc. Acesse o site: padrepauloricardo.org.

É bom e necessário, faz parte da vida cristã buscar compreender a sua fé, aprofundá-la com base na vida dos santos, possuir argumentos de evangelização e viver verdadeiramente a fé. Muito mais que saber os dogmas da Igreja, simplesmente ensinar, saber decoradamente versos bíblicos, ter conhecimento da liturgia, é saber VIVER a nossa fé! Vamos viver a fé! Porque quando a vivemos não precisamos nem mesmo dizer que somos cristãos, nossos olhos, gestos e atitudes já falam por nós. A luz de Cristo ressuscitado já resplandece em nossa face sem que queiramos ou saibamos. Assim como diz o apóstolo Paulo aos Gálatas:
"Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo que vive em mim".
(Gálatas 2,20)
| Texto adaptado de:
RICARDO, Pe. Paulo. O que é a Liturgia das Horas e qual a sua importância?2016. Disponível em:
 <https://padrepauloricardo.org/episodios/o-que-e-a-liturgia-das-horas-e-qual-a-sua-importancia>. Acesso em: 04 abril de 2016.
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